Fact Check. Filho mais novo de Donald Trump “arrebata” público em programa de talentos nos EUA?
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Barron William Trump, 18 anos, mais de 2 metros de altura, filho mais novo de Donald Trump. A última vez que teve projeção mundial foi a 20 de janeiro, dia em que o pai tomou posse como 47.º Presidente dos Estados Unidos — as breves palavras que trocou com Joe Biden, logo a seguir à tomada de posse de Trump, fizeram correr alguma tinta, sobretudo de especulação em torno da reação do agora ex-presidente à interpelação de Barron, no que foi interpretado como um misto de surpresa e estupefação pelo que acabara de ouvir do filho do seu sucessor na Casa Branca. Agora, há novo episódio.
Em dezenas de publicações no Facebook é partilhado um vídeo, ou links para outras redes onde esse mesmo vídeo foi partilhado, em que Barron surge em palco. Dá alguns passos em direção ao microfone e, depois, começa a entoar uma canção de pendor religioso e “deixa todos espantados com a sua atuação” — que, nalguns dos vídeos, é seguida de um discurso “motivacional” que leva às lágrimas muitos dos presentes na sala. À sua frente estão dezenas de pessoas nos lugares reservados ao público e, numa zona mais próxima do palco, os jurados da versão norte-americana de um conhecido programa de televisão, America’s Got Talent.
“Barron Trump deixa jurados atordoados com uma performance arrebatadora no America’s Got Talent”, refere a legenda das diversas publicações. As reações dos utilizadores das redes sociais que viram aquelas imagens divergem entre a denúncia imediata de que se trata de um conteúdo gerado com recurso a Inteligência Artificial e mensagens de felicitação pela prestação.
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Numa pesquisa pela origem das imagens, a primeira publicação em que é possível identificar o vídeo foi feita no dia 9 de fevereiro, no Youtube. O autor refere expressamente que “a canção e o vídeo foram criados com a ajuda de tecnologia de IA e não traduz de modo algum o posicionamento ou a atitude dos artistas visados”. Aliás, acrescenta, o “artista” em palco — Barron Trump — “não foi envolvido” naquela produção. Essa publicação somava mais de 3 mil “gostos” e 359 comentários quando o Observador a consultou pela última vez, no final de fevereiro.
O mesmo vídeo acabaria por ser partilhado dezenas e dezenas de vezes no Facebook. Só que, nessa multiplicação de partilhas, parte da informação ficou pelo caminho. Nomeadamente aquela em que é dito que não se trata de um conteúdo real, o que acabou por induzir vários utilizadores em erro, julgando estarem perante uma atuação verídica do filho de Donald Trump num dos programas de televisão mais populares, não só nos Estados Unidos mas em muitos outros países. “És de facto grandioso, Barron, muito obrigado por nos mostrares os teus talentos”, escreve uma das utilizadores em reação àquele conteúdo.
Não obstante o alerta do próprio autor do vídeo — e, sem surpresa, a ausência de qualquer notícia de fontes credíveis a dar conta dessa suposta “atuação” —, o Observador recorreu a uma plataforma de deteção de produtos gerados por Inteligência Artificial.
Nos três frames analisados pelo SightEngine, os resultados apontam para uma probabilidade de entre 89 a 99% de se tratar de um conteúdo gerado por Inteligência Artificial ou de um Deepfake.
Conclusão
As imagens de Barron Trump a atuar para um público composto por dezenas de pessoas, num concurso televisivo de talentos nos EUA, foram criadas por software de Inteligência Artificial. É o próprio autor que o admite — apesar de essa informação ter escapado a muitos dos utilizadores das redes sociais que difundiram o vídeo — e também uma plataforma de reconhecimento de imagens geradas artificialmente, que atribuem uma probabilidade de entre 89 a 99% de se tratar de conteúdos não reais.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
observador